terça-feira, 6 de outubro de 2009

o que é um livro?

Começar dizendo que um livro é um universo condensado e em expansão, porque é matéria finita e em transformação, é um tanto de ver poético? Ou é literal?

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Um livro é, em primeiro lugar, uma produção humana, que condensa um universo, porque tem uma materialidade limitada ao espaço em que se inscreve.

Eu tenho um amigo escritor que tem livros inteiramente escritos em si e que não estão em papel. É um títere do invisível entre suas idéias. Eu tenho certeza que ele tem esses livros em estantes de si mesmo, que os consulta, os re-escreve e, muitas vezes, ao estar com ele, tenho a impressão de consultá-los.

Quero dizer: um livro só existe em papel?

Curiosamente é o que determina a primeira definição do dicionário Houaiss: "1. coleção de folhas de papel, impressas ou não, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume que se recobre com capa resistente".

No sentido dessa primeira acepção, um papiro não é um livro, porque não tem capa. O Houaiss que consultei é de 1998. E será que 11 anos depois os escritores dos verbetes marcariam a necessidade do papel de imediato, nesse tempo de agora em que tanto se fala dos e-books (com os quais tenho preconceitos, confesso)?: e-books são livros e não estão em papel. Ou não são?

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Há uma transitoriedade temporal do conceito-livro, pois há.

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Quanto tempo dura um livro? Um tratado de medicina antiga pode existir até hoje, mas os avanços na busca contra a sida, o cancro, a paranóia, podem durar 6 meses e serem esquecidos. E podem também ser re-abilitados quando menos se espera.

Um livro vive o tempo da sua pertinência ou dura o tempo da sua existência material? Existe enquanto seu papel se sustenta no tempo?

Imagino um dia, após alguma espécie de catástrofe global, em que se morrem todas as pessoas e sobram os livros. Sem ninguém pra eles, esses livros não existem.


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Se o livro é matéria em seu limite físico, também é matéria produtora na imaginação.

Ao mesmo tempo que é limite, um livro é expansão e transformação, de idéias, informações, imagens, ficções, questões, através de quem se relaciona com ele. Digo "através" porque uma relação de leitura ou criação de alguém com um livro é um encontro de permeabilidade mútua. Um livro é um instrumento de imaginar, restringir e conceber. Tanto quem cria é criado, como quem recebe, é recebido. Quero dizer: há um pacto mútuo, o corpo do livro se abre e se fecha, conduz e é conduzido.

Nesse sentido, de tantas variáveis, um livro é ilimitado.

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Desconfio que não consegui responder a sua questão.


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