quinta-feira, 15 de abril de 2010

na hora das comidas

como se escrever fosse uma coisa pronta.

"tecido adiposo" era um conceito que me metia medo na sétima série.

vim lendo no ônibus e pensando em traduzir pra você:

"

Temos falado demais do silêncio,
nós o condecoramos o mesmo que a um vigia do último prédio,
como se nele pousasse o esplendor depois da queda,
o triunfo do vocábulo, com a língua cortada.

Ah, não se trata da canção, nem tampouco do soluço!
Eu já disse o amado e o perdido,
travei com cada sílaba os bens e os males que mais temi perder.

"

depois vou continuar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

mas às vezes tem um ponto

mas às vezes tem um ponto no texto em que eu paro. dá uma preguiça que me come aperitivo e é hora em que eu penso: continuo? parece que não vale um gato morto.

isso não é sempre que acontece. esses dias, no trem, eu fiquei horas escrevendo e era toda a necessidade de continuar, as histórias pipocando e se estendendo, porque eu só escrevo histórias. tem vez que eu viro a sherazade.

outras (e isso é um mistério. acho que às vezes o espírito não baixa direito, ou tem interferência onda de rádio, recebo a mensagem toda entrecortada e fico muito sozinho) a história fica no futuro, mas não se configura.

aí eu tenho duas opções: ou abandono ou continuo. geralmente escolho a primeira. mas por exemplo nesse texto aí da goteira, venci o sono e terminei. aí fiquei feliz.

*

eu gosto mesmo é de contar história. quase não escrevo mais diário. e versinhos só os bobinhos, nem dá vontade. mas o que eu abandonei agora, de puro bocejo, era um menininho no playground que ia de encontro a um fantasma de sangue. ou algo assim.

não é legal, também, que quando a gente escreve uma história, a gente não tem a menor ideia do que vai acontecer?

domingo, 24 de janeiro de 2010

diliça



inglêszinho safado

E não para de chover

Agora eu vou contar a história de uma goteira. Pois mesmo a gente às vezes vaza, escorre pela parede de um teto que queria inteiro e anônimo. E porque é só na falha que o teto surge. Não que o marido fizesse falta só pra isso (falando assim eu até pareço uma), mas não havia como negar que nesses tropeços do dia-a-dia, nas coisas que se quebravam de solidão. Ela trocou o balde pela toalha na esperança de que fizesse menos barulho e ela pudesse enfim dormir. Qual o quê! Toc. Toc. Toc. Ele se levantou e foi olhar à porta. Era um rapaz muito ansioso e às vezes fazia isso: ia até o olho mágico e, antes de ver, suspirava fundo o suspiro dizia "é agora". Nunca era. Então ele voltava pro sofá e percebia: se confundira com a onomatopeia. Toc, toc, toc. Põe mais uma toalha. O chão vai estar enlameado, o menino olha assustado a velocidade com que o balde enche, transborda, enxurrada que leva os barracos. Até que enfim o irmãozinho dormiu. Agora ele tem treze anos e senta com as pernas cruzadas, mais feminina quanto menos gente por perto. Toc, toc, toc. A mãe trabalha à noite, faz faxina, ele transforma a camiseta num top e se deita de luz acesa pra poder apreciar: bonitos seios, marido que chega e ama, rasga o seu corpo no meio, goteja por dentro e depois morre, toc, toc, toc, quando entra o padrasto!

E ele leva um susto, salta do sofá se recompõe sem suspirar, tira a cinta ela encolhe na cama nem tempo pra pedir: "a goteira", baixa as calças, o menino apaga a luz o rapaz apanha escorrega na toalha da viúva: é agora: entra o padrasto, nessas horas em que o cotidiano estraga ele faz falta, a mãe chega e abre a porta, "é agora": todos estão vestidos e o menino desfez o top. Ela se despe, olha os filhos, o marido, vira viúva e beija a testa do rapaz - que dorme. Sem luz no barraco, sem chuva, ela deita e escuta: toc. Toc. Toc.

por isso eu te amo demais

marcos,

andei pensando no nosso papo do naturalismo contemporâneo x a experiência moderna e isso foi antes de dormir. agora já acordei, estou tomando café/ pequeno-almoço/ mata-bicho e o hiato de 8 horas de sono e o fato de que durmo um gênio leve e hilário e acordo um asno pesado e forte (...) só me lembro mesmo de um pensamento "contar uma história clara? escrever um verso limpo? bah! eu quero é mexer com as metáforas!", marcos: eu acho que isso resolve pular a linha do meu dilema entre imaginação e realidade e, digo mais, é um elogio à inteligência humana. sim, não é?

beijos pros macaco, aqui em Portugal têm mania de iogurte de banana!

j.

*marcos, não sei usar crase, você sabe, mas jogá banana! como ninguém.

sábado, 23 de janeiro de 2010

mas o que é o essencial, não é mesmo, marcos?