domingo, 31 de janeiro de 2010

mas às vezes tem um ponto

mas às vezes tem um ponto no texto em que eu paro. dá uma preguiça que me come aperitivo e é hora em que eu penso: continuo? parece que não vale um gato morto.

isso não é sempre que acontece. esses dias, no trem, eu fiquei horas escrevendo e era toda a necessidade de continuar, as histórias pipocando e se estendendo, porque eu só escrevo histórias. tem vez que eu viro a sherazade.

outras (e isso é um mistério. acho que às vezes o espírito não baixa direito, ou tem interferência onda de rádio, recebo a mensagem toda entrecortada e fico muito sozinho) a história fica no futuro, mas não se configura.

aí eu tenho duas opções: ou abandono ou continuo. geralmente escolho a primeira. mas por exemplo nesse texto aí da goteira, venci o sono e terminei. aí fiquei feliz.

*

eu gosto mesmo é de contar história. quase não escrevo mais diário. e versinhos só os bobinhos, nem dá vontade. mas o que eu abandonei agora, de puro bocejo, era um menininho no playground que ia de encontro a um fantasma de sangue. ou algo assim.

não é legal, também, que quando a gente escreve uma história, a gente não tem a menor ideia do que vai acontecer?

domingo, 24 de janeiro de 2010

diliça



inglêszinho safado

E não para de chover

Agora eu vou contar a história de uma goteira. Pois mesmo a gente às vezes vaza, escorre pela parede de um teto que queria inteiro e anônimo. E porque é só na falha que o teto surge. Não que o marido fizesse falta só pra isso (falando assim eu até pareço uma), mas não havia como negar que nesses tropeços do dia-a-dia, nas coisas que se quebravam de solidão. Ela trocou o balde pela toalha na esperança de que fizesse menos barulho e ela pudesse enfim dormir. Qual o quê! Toc. Toc. Toc. Ele se levantou e foi olhar à porta. Era um rapaz muito ansioso e às vezes fazia isso: ia até o olho mágico e, antes de ver, suspirava fundo o suspiro dizia "é agora". Nunca era. Então ele voltava pro sofá e percebia: se confundira com a onomatopeia. Toc, toc, toc. Põe mais uma toalha. O chão vai estar enlameado, o menino olha assustado a velocidade com que o balde enche, transborda, enxurrada que leva os barracos. Até que enfim o irmãozinho dormiu. Agora ele tem treze anos e senta com as pernas cruzadas, mais feminina quanto menos gente por perto. Toc, toc, toc. A mãe trabalha à noite, faz faxina, ele transforma a camiseta num top e se deita de luz acesa pra poder apreciar: bonitos seios, marido que chega e ama, rasga o seu corpo no meio, goteja por dentro e depois morre, toc, toc, toc, quando entra o padrasto!

E ele leva um susto, salta do sofá se recompõe sem suspirar, tira a cinta ela encolhe na cama nem tempo pra pedir: "a goteira", baixa as calças, o menino apaga a luz o rapaz apanha escorrega na toalha da viúva: é agora: entra o padrasto, nessas horas em que o cotidiano estraga ele faz falta, a mãe chega e abre a porta, "é agora": todos estão vestidos e o menino desfez o top. Ela se despe, olha os filhos, o marido, vira viúva e beija a testa do rapaz - que dorme. Sem luz no barraco, sem chuva, ela deita e escuta: toc. Toc. Toc.

por isso eu te amo demais

marcos,

andei pensando no nosso papo do naturalismo contemporâneo x a experiência moderna e isso foi antes de dormir. agora já acordei, estou tomando café/ pequeno-almoço/ mata-bicho e o hiato de 8 horas de sono e o fato de que durmo um gênio leve e hilário e acordo um asno pesado e forte (...) só me lembro mesmo de um pensamento "contar uma história clara? escrever um verso limpo? bah! eu quero é mexer com as metáforas!", marcos: eu acho que isso resolve pular a linha do meu dilema entre imaginação e realidade e, digo mais, é um elogio à inteligência humana. sim, não é?

beijos pros macaco, aqui em Portugal têm mania de iogurte de banana!

j.

*marcos, não sei usar crase, você sabe, mas jogá banana! como ninguém.

sábado, 23 de janeiro de 2010

mas o que é o essencial, não é mesmo, marcos?