terça-feira, 29 de dezembro de 2009

escrever é uma bobagem
se não for essencial

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não há amor sem relação

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as palavras são vestido
pra um corpo vivo

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sem fetiche da palavra

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sem fetiche da palavra

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nada de fóssil

sábado, 5 de dezembro de 2009

se um poema se insere no tempo, no espaço, no corpo, como atravessar as direções até a chegada nele? muitas vezes me parece que escrever é uma dilatação ou uma supressão. um ataque e uma retirada. atravesso a margem do silêncio em que já estou para nele voltar. quero desesperadamente e sem desespero que tudo se encene e destrua. que se faça e suma.

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quando atravesso uma espécie de marasmo e ao silêncio me revelo como precária: determino: ontem pensei que curioso: minhas mãos coçam como se houvesse sido picada num mundo sem insetos. é assim a vontade que tenho tido de escrever desde que não escrevo mais.

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por exemplo escrever por horas sem fazer nenhum sentido. era isso que eu fazia até que a unidade se mostrou obrigatória. quando o livro esteve pronto, a unidade me expeliu. olhei para ele e ele me disse já não te quero mais, gozando livre. nunca se trata de masturbação, embora seja. descobri que não fui usada e nem usei, somos determinantemente uns dos outros. não há amor sem relação.

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acordo e não quero mais saber do futuro e nem dos aquários em que nos movemos. o vidro que nos divide é uma fábula. estamos a nadar num livro que o autor é o meu silêncio. meu silêncio o que nunca consigo fazer. é o que não existe.

talking heads

o que não existe é o que angustia?

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via de mão dupla: trafegar. lembro de uma vez o alê dizer que só se sentiu desesperado no meio da selva porque não conseguia ver as relações entre as coisas: essa árvore está pra lá de mim, não me atravessa. a árvore estava para o ruído como para o corpo num mesmo tudo, estava ao mesmo tempo sobre e com ele. e mostrou que em cima da mesa havia um vaso e o vaso estava em cima porque embaixo estava a mesa. daí a relação. um poeta relaciona tanto as coisas que vive de desesperá-las.

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divagação em dizer: estava embaçada, agora clara. vidros são lúcidos e líquidos. sabia disso? aprendi nas antigas catedrais européias que os vitrais embaixo são mais grossos, por conta da gravidade, o líquido abaixa em sua circulação.

meio como eu que prefiro tantas vezes o som ao sentido e depois descubro que o som fez mais sentido do que se sentido buscasse.

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tomorrow will never be quiet.