domingo, 22 de novembro de 2009

sem mágoas estamos aí

espana a casa põe os panos flores na sacada vasinho na mesa

*

não quero mais ser escritor agora é cantor gospel versão possessão pré-colombiana

*


amor sedimenta
mas só fossiliza depois que mórre?

*

arbor

*


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

mundo



júlia disse...

asc sol e lua
em escorpião.

%

ontem eu achei que disconcordava das coisas que c tá dizendo

mas o problema é justamente q eu concordo e acho concordável

e o poeta do finito e da matéria pra mim é águia

eu olho
que lindo
mas não sei falar (ainda?) não.

júlia disse...

o que eu tb tou dizendo é que a usp acabou com o drummond

#

é claro q'eu ainda vou tentar
escrever sobre ou com


marcos disse...

acabou, é? de que jeito?

júlia disse...

assim.

eu gostaria de ler Drummond como quem acabou de chegar. estava lavando louça pensando nisso. se é possível ler Clarice, Drummond, Rosa, como quem acabou de chegar. sem história, discurso.

não sei se é possível?

ou pelo menos me descolar disso. e pro drummond eu também teria que me deslocar da minha experiência dele ser deus.


quando eu digo que vou demorar pra escrever sobre Drummond é porque não quero escrever.


é claro que a USP não acabou com ele, claro que não.



e eu tava mais falando da USP do que do Drummond no que eu disse.

eu acho que a USP ensinou muita gente a pensar e a ler. e a escrever.

isso porque

tava sugerindo pro meu pai ontem que em vez dele ler o naturalismo contemporâneo (é assim que ele tem chamado os romances que lê) no Brasil de "decadência depois da experiência", que é já minar o campo pra baixo, né? ele poderia tentar pensar objetivando como é que esse tipo de escrita "da clareza" foi sendo construída e valorizada como cânone no Brasil.

então ele fiat lux que é coisa que vem do século XIX, ele me disse. que tem um texto do Benedito Nunes que fala disso.


*

quanto ao Drummond

acho que a USP minou a minha escrita sobre Drummond

em fazer do Drummond o cânone e o cânone se fazer por ele, pela leitura dele.

o modernismo/ a política/ a fazenda.


"A rosa do povo" ser "o Momento Grandioso" da poesia dele.


eu acho que o buraco é mais embaixo. que sim, esses são buracos, mas há outros.



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pra começar eu acho que não dá pra pensar "A rosa do povo" separado do "Sentimento do Mundo" ou do "José". são livros da guerra. são livros de guerra.


quer dizer, dá dá, né, porque dá pra pensar um verso em separado e só. uma palavra. "mundo". etc

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enfim.

marcos disse...

é, quando eu comecei a escrever eu queria só investigar essa sensação anticoncisão que o drummond sempre me dá. aí eu vi que era uma sensação muito por causa do A rosa do povo. E eu acabei não enfatizando, como queria, que nessa chave esse livro é emblemático de todas as publicações que vão do Brejo das Almas até o Lição de Coisas.

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mas eu dei uma paunocuzada e didatiquei. Até pra mim mesmo, mas né.

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não acho que dê pra ler como quem acabou de chegar, não. Mas o que deve dar pra fazer - e não será divertido? :D - é derrubar pra ver de perto.

Acho que faz muito sentido aquilo que a gente tava falando em janeiro do Drummond e do Machado: narrativas de si. Não psicanalizando a coisa, mas religando à experiência - o sangue da experiência. Esses dois escreveram o mundo todo, mas não são políticos, né. O discurso do político-profissional é apaziguador, mas o do escritor não. Por mais que o Drummond esteja lá entusiasmado com o fim da guerra e tal. Ele nunca foi moderno. Só em alguns poemas do Alguma poesia, acho.

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acho que esse "naturalismo contemporâneo" bebe muito no Drummond. Mas é o que eu estou percebendo - e isso na poesia, principalmente, embora eu ache que o foco esteja mudando - que é um naturalismo capenga. (Agora estou identificando "naturalismo" com "épico", todas as aspas). Enquanto o Drummond, em A rosa do povo, falava grande e usava todas as palavras, o pessoal dos anos 90 pra cá quer falar grande e usar cada vez menos palavras, uma dicção minimalista chupim-haikai pra tratar da máquina do mundo. Quer dizer, o cacete que é "a máquina do mundo" do mundo, vira só o que interessa pra poesiasinha de fonemas. Não que isso não possa dar poesia de verdade. Mas não deu. Só versos chatos políticos raquíticos sifilíticos...

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o Drummond é um buraco negro, né?

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Mas me diz: o que você acha da palavra "mundo"?

júlia disse...

é.

temos que falar muito nisso tudo que você disse, concordo.

mas não tou muito pra palavras agora.

daqui a pouco, depois que eu comer, ou depois que eu dormir, respondo mais.

mas queria responder a pergunta agora, da primeira resposta que me veio na cabeça.

acho que ele opõe Mundo e Morte. e faz um comer o outro dentro de si. já que morrer é tão definitivo que não dá, vamos ao mundo. já que o mundo é tão impossível como é, vamos lembrar da morte. e no meio o amor, o sorriso, a dor e a flor.

por aí.

beijo.




terça-feira, 10 de novembro de 2009

escrito na alegria

eu já acho que nasci numa família complicada demais pra se dizer se éramos ateus ou crentes. certamente havia na formação da minha mãe uma base católica fortíssima, de colégio de freiras da elite paulistana e tia portuguesa cega rezando o credo virada pra parede. e meu pai filho de alemão caçador, pai de santo, bruxo curandeiro que lia o mein kempf e mandava o professor na escola não falar sobre pecado pro meu pai.

pecado é comer palha, joãozinho.

deus na minha casa, a priori, não existiu.

sendo assim, cresci com os símbolos. minha casa era tomada deles. flores, livros, lembranças de viagens, quadros, objetos religiosos das mais diversas culturas, budas, cristos, orixás, sempre estiveram lado a lado e todos como altares já caídos. ou que nunca subiram? nem a arte, nem o saber, nem a religião, nem a ciência, nem a política, nada disso nunca esteve em superior posição. e estava tudo junto, amalgamado e separado, como somos.

creio que nisso tinha um respeito pela ficção/realidade e toda espécie de capacidade da linguagem humana, a imaginação e o conhecimento. e como a morte é o que há e o que não há, também sempre o mistério do planeta esteve a pintar por aí em nós. da mesma maneira como provaríamos que tudo é o que é e se vê, seríamos também capazes de defumar a casa com incensos, tomar banho de sal grosso, plantar espadas de são jorge nos cantos da casa e atacar o iluminismo. por que, né?

*

quando eu tinha uns 6 anos no Guarujá lembro de esfriar e chover, e me cubrir com uma manta das casas parahyba, vermelha xadrez e a Zélia, minha tia avó mais católica de todas e que na ocasião da morte escrevi o rio dos mortos, se aproximou de mim e contou a gênese do mundo. eu ouvi e ouvi e ouvi. ao final disse "é uma história muito bonita, mas não foi assim que foi, não. foi o BUM."

meu irmão estudava física e ouvia laurie anderson. só depois que virou economista.

*
gente é outra alegria, diferente das estrelas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009